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Ministério da Justiça recebeu mulher de líder do Comando Vermelho para reuniões

Luciane participou de duas audiências com dois secretários e dois diretores da pasta de Dino em 2 meses.

Assessores do ministro da Justiça, Flávio Dino, receberam duas vezes neste ano a mulher de um dos líderes da organização criminosa Comando Vermelho, Luciane Barbosa Farias, conhecida como a “dama do tráfico amazonense”. A informação foi divulgada pelo ‘O Estado de S. Paulo’, nesta segunda-feira (13), e foi confirmada pelo Ministério da Justiça.

De acordo com a reportagem, Luciane participou de duas audiências com dois secretários e dois diretores da pasta de Dino em um período de menos de dois meses.

A primeira audiência ocorreu no dia 19 de março, quando Luciane esteve com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino. Pouco tempo depois, em 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

No encontro de maio, ela entrou no Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA). No papel, uma ONG de defesa dos direitos dos presos e que, contudo, conforme a Polícia Civil do Amazonas, atua em prol dos detentos ligados à facção. Criada no ano passado, a organização também seria financiada com dinheiro do tráfico.

No mesmo dia do encontro com Velasco, Luciane esteve também com mais duas autoridades dentro do Ministério da Justiça: Paula Cristina da Silva Godoy, titular da Ouvidora Nacional de Serviços Penais (Onasp); e Sandro Abel Sousa Barradas, diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen. O nome dela, entretanto, não consta das agendas oficiais das autoridades.

Luciane divulgou reuniões nas redes sociais

Em sua página no Instagram, Luciane disse ter levado a Velasco e a outras autoridades do ministério “denúncias de revistas vexatórias” no sistema prisional amazonense. Ela também relatou que teria apresentado um “dossiê” sobre “violações de direitos fundamentais e humanos” supostamente cometidas pelas empresas que atuam nas prisões do Estado.

“Em resultado destas reuniões o primeiro passo foi tomado em prol aos familiares visitantes de reclusos onde as revistas vexatórias estão em votação com maioria favorável para ser derrubada!”, escreveu Luciane no Instagram sobre as reuniões com a equipe de Flávio Dino.

Quem é Luciane

Luciane Barbosa é casada há 11 anos com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que era considerado o “criminoso número um” na lista de procurados pela polícia do Amazonas, até ser preso em dezembro de 2022. Os dois foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. Clemilson cumpre 31 anos no presídio de Tefé, no Amazonas. Luciane foi sentenciada a dez anos e recorre em liberdade.

Segundo o Ministério Público, Luciane atuou como o “braço financeiro” da operação do marido, como destacou o seguinte trecho da acusação. “Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’. Graças ao trabalho, ela conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa ‘Comando Vermelho’”.

No Amazonas, o marido de Luciane ficou conhecido por ostentar a “fama de indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia”. O Ministério Público relata que ele possui poder econômico advindo do tráfico de drogas e costuma ser cruel com seus devedores, “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”, segundo um trecho da denúncia do procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, de agosto de 2018.

Os métodos violentos de Tio Patinhas marcam a crônica policial do Amazonas. Em abril de 2019, um homem foi encontrado morto em Manaus com um cartaz no rosto: “devia Tio Patinhas”. Num ataque a um motel, um homem foi morto com tiro na cabeça e outro ficou ferido, ambos vítima de execução comandada pelo traficante. Tio Patinhas também já posou para foto segurando uma metralhadora de artilharia antiaérea calibre .30, capaz de abater aeronaves e atravessar veículos blindados.

Envolvimento de ONG com o tráfico de drogas

Segundo investigação da Polícia Civil do Amazonas, a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), ONG criada por Luciane Barbosa Farias, é apenas uma fachada usada pelo Comando Vermelho para “perpetuar a existência da facção criminosa e obter capital político para negociações com o Estado".

De acordo com trecho de uma investigação sigilosa obtida pelo Estadão, as ações sociais feitas pela entidade seriam, ao fim, sustentadas pelo Comando Vermelho “com a arrecadação de seus membros”.

O que disse o Ministério

Em nota, o Ministério da Justiça admitiu que a “cidadã”, como se referem a Luciene, foi recebida por secretários do ministro Flávio Dino, mas que ela integrou uma comitiva sendo “impossível” o setor de inteligência detectar previamente a presença dela. Contudo, agendas públicas de autoridades costumam trazer informações sobre os demais participantes das reuniões, e não apenas da pessoa que solicitou a reunião já que a falta de controle pode, inclusive, representar um risco para os servidores.

Confira abaixo a nota do Ministério da Justiça na íntegra:

“No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.

A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.

Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM.

Não houve qualquer outro andamento do tema.

Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.

Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais”.

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