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"A mulher não tem o espaço que merece ter", diz juíza Keylla Ranyere

"Ela tem uma força de trabalho, ela desempenha as mesmas funções, mas ela não tem esse espaço", criticou a juíza.

O Dia Internacional da Mulher, que acontece nesta sexta-feira (8), tem sido um dia de reflexão e debates sobre os desafios da mulher. Em entrevista ao GP1, a juíza Keylla Ranyere, da 3ª Vara da Família, disse que as mulheres tem buscado por mais espaço na sociedade, no mercado de trabalho e tem se tornado mas independente, mas que isso tem feito com que elas sejam alvos de violência.

A juíza que lida diariamente com casos de violência doméstica, explicou que é importante mostrar para as mulheres que assim como ela, podem conquistar o espaço que deseja. A magistrada destacou que esse posicionamento da mulher, em busca de mais espaço, mais igualdade, não é bem aceita por muitos homens. Para ela, a mulher não tem o espaço que merece ter.

  • Foto: Hélio Alef/GP1Juíza Keylla RaniereJuíza Keylla Ranyere

“A questão da violência é só um dos aportes, na verdade a mulher não tem o espaço que merece ter. Então ela tem uma força de trabalho, ela desempenha as mesmas funções, mas ela não tem esse espaço. E às vezes essa violência acontece justamente porque ela está tentando conquistar esse espaço e isso às vezes na visão de alguns [homens], chega a ser até uma afronta naquele espaço, que já foi historicamente ocupado por eles. A violência vem muito disso, nesse não reconhecer o papel da mulher e que ela é capaz de ter domínio sobre seu corpo, suas decisões, atuar de forma livre, assim como os homens tem”, destacou.

A dificuldade da mulher conseguir o mesmo espaço que o homem se reflete em vários setores. A juíza Keylla Ranyere deu como exemplo o próprio Tribunal de Justiça do Piauí, onde a desembargadora Eulália Pinheiro é a única mulher a ocupar a Corte do TJ.

“Aqui no Tribunal de Justiça, das 19 cadeiras que nós temos, só existe uma mulher. Então 5%, um dos menores percentuais de ocupação feminina em posto do país. Isso já é um reflexo. A desembargadora Eulália, que é a nossa pioneira que está desbravando esse caminho para nós, foi a primeira magistrada. Ela tem 40 anos como integrante do TJ e é a única a figurar na Corte. Isso reflete muito que a carreira da mulher tem uma marcha mais lenta, que quando existe alguma subjetividade as mulheres sempre são deixadas em segundo plano e isso não sou eu que estou dizendo, são os números que mostram. O que a gente precisa fazer é fomentar esse diálogo, tentar entender porque esses números mostram isso e trabalhar para que essa realidade mude”, disse a juíza Keylla Ranyere.

Casos de violência

A juíza destacou que são muitos casos de violência doméstica que precisam ser julgados, mas que ainda é pequena a equipe destinada aos julgamentos.

“Esse é um foco que está sendo inclusive uma das metas dessa nova gestão do Poder Judiciário, focar nesses processos, investigar mais nessas varas. Aqui em Teresina só temos uma unidade. Então toda ela agrega. É muito difícil um só magistrado, uma só equipe dar fluência a toda essa demanda. Então o que precisa existir é o investimento do Poder Judiciário nessas unidades, que ele possa ter também esse respaldo financeiro para investir em contratação de mais juízes, de mais servidores para que possa dar vazão porque cada processo tem sua complexidade, ele precisa ser analisado, tem toda uma instrução, demanda tempo e necessita realmente de uma maior estrutura”, explicou.

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