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Saúde

Aquecimento global é suspeito de fazer vírus cruzar oceanos

Uma doença transmitida pelo derretimento do gelo ou por um pássaro migrante.

Lontras-marinhas e focas do Oceano Pacífico, na região da costa do Alasca, estão infectadas com um vírus que tinha sido detectado somente em animais do Atlântico. Um novo estudo indica que o derretimento do gelo do Ártico pode ser o culpado - e que as mudanças climáticas podem estar ajudando a espalhar doenças para novas regiões.

Tracey Goldstein, uma bióloga da Universidade da Califórnia, em Davis, ficou curiosa quando testes em lontras-marinhas do Pacífico apresentaram resultado positivo para morbillivírus Phocine - um primo do vírus da esgana canina - em 2004, dois anos após um grande surto entre focas-comuns europeias.

Análises genéticas mostraram que as infestações em ambos os grupos de animais estavam conectadas. A Dra. Goldstein se perguntava como um vírus normalmente transmitido por contato direto com um animal doente tinha conseguido passar de um oceano setentrional a outro.

Até 2002, os mares do Círculo Polar Ártico permaneciam majoritariamente congelados mesmo no fim dos verões. Naquele ano, porém, o Oceano Ártico entre o Atlântico Norte e o Pacífico tornou-se navegável no fim do verão.

Apesar de as lontras-marinhas não se aventurarem longe de casa, é possível que focas tenham levado o vírus do Atlântico para o Pacífico, afirmou a Dra. Goldstein.

O derretimento do gelo marinho é uma explicação plausível para a disseminação do vírus - mas não a única, afirmou Charles Innis, um veterinário do Aquário da Nova Inglaterra, em Boston.

“Um cético poderia argumentar que o vírus poderia ter sido transmitido por meio de um hospedeiro intermediário, como um pássaro capaz de voar longas distâncias”, afirmou Innis. “Ou talvez a transmissão tenha se dado por águas de lastro de navios.”

Até o comércio ilegal de bichos de estimação ou de animais selvagens ou a carne contaminada transportada de uma costa a outra poderiam espalhar um vírus, acrescentou ele.

A Dra. Goldstein e sua equipe também procuraram por anticorpos do vírus nos animais. Não havia evidência da presença de anticorpos em testes realizados antes de 2000. Em 2002, porém, o novo estudo encontrou “uma considerável diferença” nos níveis de anticorpos em leões-marinhos-de-steller, afirmou a Dra. Goldstein, sugerindo que os animais tinham infecções ativas ou tinham se recuperado de infecções.

O morbillivírus Phocine é bastante mortífero entre as focas-comuns do Atlântico. Centenas de focas-comuns e focas-cinzentas foram encontradas mortas em 2018 na costa da Nova Inglaterra por causa de infecções de morbillivírus e gripe.

Focas-harpa, porém, parecem ter mais capacidade de sobreviver ao morbillivírus Phocine, afirmou a Dra. Goldstein, e podem servir como hospedeiras - um nicho ecológico no qual as infecções persistem. Os surtos podem ter início quando uma foca-harpa doente entra em contato com uma foca-cinza.

O novo estudo identificou uma segunda onda de anticorpos virais, em 2009, em várias espécies de focas, incluindo focas polares, lobos-marinhos-do-norte e leões-marinhos-de-steller. O atual estudo se encerrou em 2016 e, assim sendo, não está claro se o vírus tem se espalhado desde então, afirmou a Dra. Goldstein.

Mas ela se preocupa com a possibilidade de um novo ciclo de infestação estar próximo. “Esses eventos raros podem se tornar mais comuns”, afirmou ela.

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