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Bolsonaro cobra 'perícia independente' em corpo de Adriano Nóbrega

Presidente sugere que áudios podem ser inseridos em telefone do miliciano para incriminá-lo.

O presidente Jair Bolsonaro cobrou nesta terça-feira, 18, uma perícia independente no corpo do miliciano Adriano da Nóbrega, o capitão Adriano, que era procurado sob acusação de chefiar no Rio a milícia Escritório do Crime.

Após apontar no fim de semana a “PM da Bahia, do PT”, como responsável pela morte do ex-policial militar, o presidente disse ter tomado "providências legais" para que a apuração não fique restrita à polícia baiana e sugeriu que áudios podem ser inseridos no telefone apreendido com o intuito de incriminá-lo.

Bolsonaro também classificou como "grave" a carta assinada por um grupo de 20 governadores, divulgada na segunda, em que criticam o presidente pelas declarações a respeito de Adriano. A reação dos governadores começou a ser construída no sábado, logo após o presidente afirmar Rui Costa “mantém fortíssimos laços” com bandidos e que a PM baiana foi a responsável pela morte do miliciano.

"Essa carta (dos governadores), tem uma algo mais grave ali. Eles estão criticando minha postura no caso do capitão Adriano. Eu esperava que os governadores fossem querer uma investigação isenta no caso Adriano", rebateu Bolsonaro nesta terça.

Adriano foi morto durante operação policial em Esplanada (BA), no domingo, 9. Ele fora localizado após fugir, por mais de um ano, da polícia fluminense. O miliciano tinha ligações com o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, que já o homenageou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e empregou parentes em seu gabinete.

Minutos antes de falar com a imprensa, o presidente havia se referido ao assunto no Twitter. "A quem interessa não haver uma perícia independente? Sua possível execução foi 'queima de arquivo'? Sem uma perícia isenta os verdadeiros criminosos continuam livres até para acusar inocentes do caso Marielle", postou Bolsonaro.

A manifestação do presidente ocorre após o juiz Gustavo Kalil, da 4.ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, decidir na segunda-feira, 17, que “não há necessidade de conservação” do corpo do ex-policial militar “nem de novos exames periciais". Na sexta-feira passada, no entanto, o mesmo juiz havia determinado a conservação do corpo em câmara de refrigeração até a realização de todas as diligências para esclarecer a morte do ex-PM. Ontem, Kalil revogou a própria decisão.

Familiares de Nóbrega pedem na Justiça o direito de cremar o corpo do ex-capitão. O pedido, no entanto, foi negado na semana passada pela juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário, que alegou ausência de documentos - essa medida continua em vigor. Viúva do ex-capitão, Julia Lotufo pediu a realização de uma perícia no corpo. O advogado da família, Pedro Catta Preta, concederá uma entrevista em Brasília nesta terça-feira para reforçar o pedido.

Perícia no telefone

O presidente disse ter receio de haver distorções na perícia oficial feita pela polícia da Bahia, que responde ao petista Rui Costa, e que alguém poderia até inserir áudios supostamente falsos para relacioná-lo ao miliciano.

"Tem outra coisa mais grave: vai ser feita perícia no telefone apreendido com ele. Será que essa perícia poderá ser insuspeita? Porque eu quero uma perícia insuspeita", afirmou Bolsonaro.

Segundo o presidente, áudios podem ser inseridos para tentar relacioná-lo às atividades criminosas de Adriano. "Nós não queremos que seja inserido áudios no telefone de conversações no WhatsApp. Depois que se faz uma perícia, se por ventura uma pessoa seja atingida, que pode ser eu, apesar de ser presidente da República, quanto tempo teria para ser feita uma nova perícia? Vocês lembram do caso do porteiro", afirmou à imprensa, em referência ao depoimento de um porteiro na investigação da morte da vereadora Marielle Franco.

O presidente disse não ter interesse em uma "queima da arquivo" no caso Adriano, mas lançou suspeitas de uma tentativa de prejudicá-lo. "A quem interessa queima de arquivo? A mim não. Zero. O que é mais grave agora: primeiro estou pedindo, já tomei as providência legais, para que seja feita uma perícia independente", afirmou, sem detalhar quais medidas teria tomado.

O Escritório do Crime, da qual Adriano fazia parte, foi investigado nas operações Os Intocáveis e Os Intocáveis II, é acusado de explorar grilagem, promover extorsões e cometer assassinatos por encomenda. Ronnie Lessa, preso sob acusação de matar Marielle e o motorista Anderson Gomes, em março de 2018, é ligado a essa milícia.

Federalização

Questionado sobre a possibilidade de federalizar o caso Adriano, ele afirmou que "está em uma sinuca de bico". "Podem achar que, ao federalizar, eu teria alguma participação, alguma influência no desfecho, na investigação. É zero. Se o (ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio) Moro achar que deve federalizar, a decisão é dele. Eu não vou falar para ele não ou sim", disse o presidente.

Bolsonaro citou a investigação sobre a morte de Marielle Franco para criticar a atuação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. "As investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, a começar pelo caso do porteiro, você já vê que está contaminado. Por exemplo, agora diz que a voz não é do porteiro. Foi feita alguma nova investigação sobre o porteiro? Em federalizando, vai ter que ir para cima do porteiro. Por que você falou isso?", questionou Bolsonaro.

"Ele (o porteiro) falou, depois desmentiu o que falou, depois foi desmentido de novo. Está feio o negócio. Eu quero é saber quem mandou matar a Marielle, sem problema nenhum. Assim como quero saber quem matou Celso Daniel, assim como eu quero saber quem mandou matar um tal de Jair Bolsonaro. Por coincidência, o cara que me esfaqueou foi filiado ao PSOL até bem pouco tempo. Essas são as verdades que têm que ser colocadas para fora. E não é difícil colocar para fora", continuou.

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