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Política

Confusão encerra audiência de Sérgio Moro na Câmara

O tumulto começou quando o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) chamou Moro de "ladrão" e afirmou que ele iria entrar para história como "o juiz mais corrupto da história do Brasil".
Por Estadão Conteúdo

Após mais de sete horas de sessão, a audiência com o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, foi encerrada nesta terça-feira, 2, após uma confusão generalizada entre deputados da base e da oposição. O tumulto começou quando o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) afirmou que Moro iria entrar para história como o juiz “mais corrupto da história do Brasil” e o chamou de “juiz ladrão”.

“O senhor vai estar sim nos livros de História como um juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão. A população brasileira não vai aceitar como fato consumido um juiz ladrão e corrompido que ganhou uma recompensa por fazer com que a democracia brasileira fosse atingida. É o que o senhor é: um juiz que se corrompeu. Um juiz corrupto. O mais corrupto da história do Brasil”, disse Braga.

A declaração causou protestos de parlamentares da base aliada, que interpelaram o deputado do PSOL e, aos gritos, começaram a ofendê-lo. A discussão chegou à mesa da presidência, onde Moro respondia, desde as 14h, questionamentos sobre mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato, vazadas pelo site The Intercept Brasil.

No momento, a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-MA) presidia a sessão e tentava controlar o tumulto, mas precisou encerrar quando Moro, cercado por seguranças e por deputados do PSL, deixou o local por uma porta lateral. A oposição, então, reagiu com gritos de “fujão”.

Já do lado de fora, Moro disse que as ofensas proferidas por Glauber eram “inaceitáveis” e chamou no parlamentar de “despreparado”. “Acho que prestei informações, respondi, houve até alguns ataques, acho que a gente respondeu tudo. No final um deputado absolutamente despreparado, que não guarda o decoro parlamentar, fez uma agressão, umas ofensas que são inaceitáveis. E infelizmente se teve de encerrar a sessão e a culpa é desse deputado absolutamente despreparado, Clauber, acho, Glauber alguma coisa, sabe Deus lá de onde veio isso aí”, disse o ministro da Justiça.

O deputado do PSOL rebateu o ministro. “O Moro me chamar de desqualificado, para mim, é um elogio. Porque alguém como ele que se vendeu, que se corrompeu e que, depois, recebeu um cargo no ministério de Jair Bolsonaro exatamente por ter se vendido, o nome disso é corrupção. Ele mente quando diz combater a corrupção, ele tem um projeto de poder próprio”, disse o deputado ao Estado na saída da sessão.

Arena. O depoimento do ministro da Justiça na CCJ transformou-se em uma arena de embates entre deputados da oposição e o ex-juiz da Lava Jato. Sem a mesma “blindagem” que teve quando foi ao Senado, há 13 dias, Moro se irritou com perguntas, disse não haver “inocentes” presos e afirmou que acompanha como “vítima” as investigações da Polícia Federal sobre a troca de mensagens atribuídas a ele e a procuradores da Lava Jato.

Em mais de sete horas de sabatina, Moro negou-se a confirmar ou rejeitar o conteúdo dos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil e classificou como “revanchismo” os ataques que vem recebendo. “Há uma tentativa criminosa de invalidar condenações”, afirmou ele. “Qual foi a mensagem que revela que tem inocente condenado? Que inocentes?”, questionou.

A oposição se revezou nas críticas a Moro e o clima esquentou várias vezes, com muito bate-boca na sessão. Dois dias depois das manifestações de rua em apoio a ele, à Lava Jato e à reforma da Previdência, porém, o ministro parecia mais seguro e até fez ironias com o episódio. “Se as minhas mensagens não foram adulteradas, não tem nada ali, nada. É um balão vazio cheio de nada”, insistiu Moro.

O titular da Justiça chegou a dizer que se fala muito da anulação do processo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – preso desde abril do ano passado – mas também é preciso perguntar se alguém defende o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque.

“Precisamos de defensores destas pessoas. Que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade já que foram condenadas pelos malvados procuradores da Lava Jato, pelos desonestos policiais e pelo juiz parcial”, disse Moro, sempre se referindo aos condenados como “todos esses inocentes”.

Houve gritos na sala da CCJ. “Dispenso a ironia!”, protestou a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Sempre que era questionado pela oposição, Moro folheava papéis e desviava o olhar do interlocutor. “Eu gostaria que o senhor me olhasse nos olhos. Desconfiem de quem baixa a cabeça”, disse Rosário.

Na tentativa de provocar os adversários, integrantes do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, levantavam folhas de papel sulfite com apelidos dados por dirigentes da Odebrecht a políticos do PT beneficiados pela empreiteira com recursos nas campanhas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) era um dos mais animados e comandava a tropa, segurando folhas com as inscrições “Solução” – apelido atribuído a Maria do Rosário – e “Montanha”, alcunha dada ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

Os petistas, por sua vez, empunhavam cartazes com a reprodução do PowerPoint usado pelo Ministério Público Federal para condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro de 2016. O desenho virou piada nas redes sociais.

Moro demonstrou impaciência com os deputados do PT, do PSOL e da Rede, que cobraram o seu afastamento do cargo. Questionado sobre ter aceito convite para entrar no governo Bolsonaro, quando ainda era juiz, o ministro disse já ter falado sobre esse assunto “30 mil vezes”. “Se durante as investigações da Lava Jato eu tivesse deixado a corrupção florescer, me omitido e virado os olhos para o outro lado, eu não sofreria esses ataques como sofro atualmente”, afirmou ele. O ministro repetiu ter sido vítima de “hackers criminosos” e disse que, mesmo se autênticos, diálogos com procuradores são “coisas absolutamente triviais no cenário jurídico”.

Sem respostas. Moro deixou sem resposta, porém, algumas perguntas como, por exemplo, se é verdadeira a informação de que a Polícia Federal, subordinada ao ministério comandado por ele, pediu ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) relatório sobre movimentações feitas pelo jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil. A informação foi publicada pelo site O Antagonista.

Em um dos momentos de maior tensão, o ministro reagiu com nervosismo a uma provocação da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. “Se alguém tem algum elemento de fato contra mim, que apresente. Não sou eu investigado por corrupção”, disse Moro, em referência às investigações da Lava Jato contra Gleisi. O deputado Boca Aberta (PROS-PR) deu um troféu para Moro. Disse que a taça simbolizava o combate à corrupção.

Mesmo ressalvando não reconhecer a autenticidade das mensagens, ele tentou explicar a frase “In Fux We Trust”, que apareceu em uma das conversas como sendo de sua autoria. “Pode ter algumas mensagens ali que eu tenha mandado. A referência lá: ‘Confia no ministro do Supremo Tribunal Federal?’ Bem, eu confio. Sempre tratei respeitosamente os ministros do STF”, argumentou.

Clima de ‘Escolinha do Professor Raimundo’

“Isso aqui parece a Escolinha do Professor Raimundo”, reclamou o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Felipe Francischini (PSL-PR), aos deputados que a todo momento interrompiam a audiência do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Os “alunos” eram deputados que se provocavam durante a “aula”, com direito até a “gemidão” do WhatsApp no meio de uma pergunta.

Entre os “travessos” estavam, do lado governista, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o líder do PSL, Delegado Waldir (GO). Na oposição, os petistas Paulo Pimenta (RS) e Zeca Dirceu (PR). Dirceu bateu boca com Éder Mauro (PSD-PA), que sentou em seu lugar. Francischini interveio. “Imagina se eu ainda precisar ficar cuidando do lugar de quem foi ao banheiro”, disse o relator, completando com o bordão do icônico personagem de Chico Anysio: “E o salário, ó!”

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