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Nicolás Maduro liberou verba dias após obter propina

Documentos mostram que autorização de recursos para Odebrecht coincidiam com depósitos milionários feitos em paraísos fiscais.

O governo de Nicolás Maduro acelerou a liberação de recursos para a Odebrecht após vencer as eleições de 2013 e já com a Operação Lava Jato no Brasil em andamento. O dinheiro extra que Caracas aprovava coincidia, dias depois, com depósitos de propinas em paraísos fiscais.

Autorizações do gabinete de Maduro para a entrega de mais de US$ 3 bilhões em contratos em menos de um ano revelam que a construtora brasileira foi paga não apenas por fundos públicos venezuelanos, mas também por recursos da China e com empréstimos que o BNDES havia feito para a Venezuela.

  • Foto: AFPNicolás MaduroNicolás Maduro

O presidente tinha vencido as eleições em 14 de abril de 2013 por uma margem mínima de votos. No Brasil, o cerco às construtoras e aos ex-executivos da Petrobrás começou em março de 2014.

Em meados de 2014, a construtora brasileira seguia com sua estratégia de rejeitar qualquer ilegalidade em sua atuação, tanto no Brasil quanto no exterior. “A Odebrecht nega veementemente a existência de qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobrás, conquistados legitimamente por meio de concorrências públicas”, declarou a empresa em comunicado da época.

Foi justamente neste momento que o processo de pagamentos em Caracas também se acelerou, assim como os depósitos no exterior. Não era a primeira vez que a Venezuela agia para liberar recursos extras para a Odebrecht. Documentos apontam que isso já havia ocorrido em 2011 e 2013, com Hugo Chávez. Em reportagem publicada em 2018, o Estado revelou que nesse período o governo venezuelano teria liberado cerca de US$ 4 bilhões para a Odebrecht.

No entanto, a descoberta de novos documentos por parte de investigadores próximos à ex-procuradora venezuelana Luisa Ortega revela que o volume de dinheiro aprovado para a Odebrecht se acelerou após a eleição de Maduro.

Em 17 de setembro de 2014, por exemplo, o ministro de Obras, Haiman El Troudi, solicitou novos recursos ao presidente. O pedido era que ¤ 106 milhões fossem “reorientados” para o projeto do metrô, conhecido como Linha Guarenas, uma obra da Odebrecht. Troudi, que também foi ministro dos Transportes, aparece nas investigações e delações premiadas sobre a atuação da Odebrecht na Venezuela. Maduro aprovou a liberação.

No dia seguinte, 18 de setembro de 2014, um primeiro pagamento de US$ 600 mil foi realizado. O depósito foi feito pela Cresswell, empresa de fachada usada pela Odebrecht com contas na Suíça. O dinheiro foi enviado para um banco em Dubai. Os beneficiários, segundo as investigações, seriam operadores do regime chavista.

Offshore

Em 5 de outubro de 2014, um novo pagamento no exterior seria realizado, desta vez de US$ 2 milhões. Do Meinl Bank, em Viena, os recursos foram transferidos para outras contas no mesmo banco no Panamá. De novo, seria a offshore Cresswell quem conduziria as operações. A empresa foi a mesma usada para bancar a campanha de Maduro, em 2013.

Ao Estado, investigadores venezuelanos revelaram que os recursos tinham relação direta com o contrato da Linha Guarenas do metrô. Em 26 de janeiro de 2015, foram solicitados a Maduro mais US$ 616 milhões e 268 milhões de euros para que os repasses fossem feitos para a empresa brasileira. Uma vez mais, entre as obras beneficiadas, estava a Linha Guarenas. O presidente aprovou o novo aporte e disse que o dinheiro deveria vir de um “fundo chinês”.

Em 12 de fevereiro de 2015, a Odebrecht voltaria a fazer um pagamento no exterior ligado à Linha Guarenas. Uma transferência de US$ 5 milhões seria realizada pela Cresswell, entre Viena e uma conta no Panamá.

Ao longo de 2014, foram mais dois aditivos aprovados por Maduro. Em 15 de maio de 2014, Troudi pediu ao presidente que liberasse 12 milhões de euros para o metrô de Los Teques. Em 10 de junho de 2014, foram solicitados recursos extras no valor de US$ 1,8 bilhão e 299 milhões de euros. Além de Maduro, o documento traz a assinatura de Rafael Ramírez, então ministro do Petróleo, acusado de corrupção nos EUA.

Procurado, o governo venezuelano não respondeu aos pedidos de esclarecimento. A Odebrecht, em um comunicado, indicou que “tem colaborado de forma eficaz com as autoridades dos vários países nos quais atua em busca do pleno esclarecimento de fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos”. “A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente”, afirmou a empresa.

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