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Saúde

Vermífugo defendido pelo governo reduz carga viral da covid-19, diz estudo

Artigo com resultados de pesquisa financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações foi publicado nesta sexta sobre medicamento chamado Anitta.

Apesar de reduzir a carga viral em pacientes com covid-19, o vermífugo nitazoxanida não tem eficácia na resolução dos sintomas da doença ao final dos cinco dias de tratamento nem é capaz de evitar hospitalizações de doentes com coronavírus, mas demonstrou benefício na resolução dos sintomas após sete dias de seguimento.

As conclusões estão em artigo que traz os dados completos do estudo financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI), cujos resultados parciais foram apresentados em uma cerimônia no Palácio do Planalto nesta segunda-feira, 19.

Na ocasião, o governo federal usou um gráfico de barras tirado de um banco de imagens, sem base nos dados reais da pesquisa, para ilustrar a eficácia do medicamento. No vídeo de apresentação da conclusão do estudo, um narrador afirma, ao mesmo tempo em que o gráfico é mostrado, que “o resultado comprovou de forma científica a eficácia do medicamento na redução da carga viral na fase precoce da doença".

Na data do evento, o ministro Marcos Pontes justificou que o estudo completo não havia sido apresentado pois os dados precisavam ser inéditos para a publicação em periódico científico.

Os dados completos foram publicados nesta sexta-feira, 23, na plataforma medRxiv, que reúne artigos na versão pré-print, ou seja, que ainda não foram publicados em revistas científicas nem passaram por revisão de outros pesquisadores.

De acordo com informações do artigo, 392 pacientes participaram do estudo, dos quais 194 tomaram nitazoxanida por cinco dias e 198 receberam placebo. Foram incluídos na pesquisa somente doentes com quadros leves da doença, ainda nos cinco primeiros dias de sintomas. O estudo foi randomizado e duplo-cego, ou seja, os participantes foram divididos nos dois grupos de forma aleatória e nem os pacientes nem os pesquisadores sabiam quem tomou a droga e quem recebeu o placebo.

No quinto dia de acompanhamento após o início do tratamento, não houve diferença do quadro clínico entre os grupos medicado e placebo. Esse era o chamado "desfecho primário" monitorado pelo estudo, ou seja, o principal indicador de monitoramento.

Já no seguimento de uma semana, considerado "desfecho secundário", o porcentual de pacientes que relataram completa resolução dos sintomas foi de 78% no grupo que tomou o nitazoxanida e 57% no grupo placebo, o que, de acordo com os autores, representa diferença estatisticamente significativa.

O índice de pacientes que apresentaram exame PCR negativo após sete dias também foi maior entre o grupo medicado: 29,9% contra 18,2%. Não foram observados eventos adversos graves no grupo que tomou a droga.

O remédio, no entanto, não foi capaz de reduzir complicações pela doença. De acordo com o artigo, dez pessoas foram internadas por agravamento do quadro, cinco de cada grupo do estudo - ou seja, a administração do medicamento não fez diferença nesse aspecto. No grupo da nitazoxanida, inclusive, dois pacientes tiveram de ser transferidos para a UTI.

“Nitazoxanida se mostrou segura, reduziu significativamente a carga viral e aumentou a proporção de pacientes com teste negativo para SARS-CoV-2 após cinco dias de terapia em comparação com placebo. Nitazoxanida não preveniu a hospitalização”, afirmam os autores em uma das conclusões do estudo.

De acordo com os pesquisadores, embora o remédio não tenha alcançado o desfecho primário esperado, que era a resolução dos sintomas em cinco dias, o efeito do medicamento na redução da carga viral e na melhora da doença após sete dias pode ter impacto epidemiológico ao reduzir a dispersão do vírus na comunidade.

Os pesquisadores ressaltam que alguns fatores da amostra de pacientes podem ter "enviesado" o estudo a favor da nitazoxanida, como o fato de a maioria dos pacientes ser jovem e sem comorbidades. Eles defendem que novas pesquisas sejam feitas para avaliar o efeito do medicamento em casos mais graves da doença.

Os autores também ressaltam uma série de limitações que devem ser consideradas ao interpretar os resultados da pesquisa. Uma delas é que os pesquisadores mediram somente três sintomas da doença para chegar aos resultados de acompanhamento de cinco e sete dias: febre, tosse seca e fadiga. Eles ressaltam que agora já se sabe que a covid pode se manifestar por outros sintomas.

Os cientistas também destacam que não foi feito acompanhamento mais longo dos participantes do estudo, por exemplo por 28 dias. Dizem ainda que nem todos os pacientes foram monitorados durante os sete dias: somente foram contatados aqueles que, no quinto dia de tratamento, ainda apresentavam algum dos três sintomas monitorados.

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