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Teresina - Piauí

Justiça manda investigar morte de policial no Hospital São Marcos

Também foi pedida investigação contra o Hospital Unimed, onde o paciente também esteve internado.

O juiz Valdemir Ferreira Santos, da Central de Inquéritos de Teresina, determinou a abertura de inquérito policial para investigar a morte do policial civil do Maranhão, Wladimir Fontenele Sá Barreto, por erros médicos. O despacho foi assinado no dia 14 de dezembro de 2022.

O pedido de instauração de inquérito foi feito pelo Ministério Público do Estado do Piauí, através da promotora Gianny Vieira de Carvalho, no dia 23 de setembro de 2021, após representação criminal feita pela mãe do policial, Maria das Graças Fontenele, contra o Hospital São Marcos, o Hospital Unimed e a Unimed Seguros por homicídio culposo.

Foto: GP1Hospital São Marcos e Unimed Teresina
Hospital São Marcos e Unimed Teresina

De acordo com o despacho, foi determinado o envio dos autos ao 1° Distrito Policial para que no prazo de 10 dias, a autoridade policial competente instaure inquérito policial e prossiga com as investigações, realizando todas as diligências necessárias para apuração do delito noticiado.

Representação Criminal

De acordo com representação criminal, o policial foi submetido a vários erros médicos, que ocorreram desde sua primeira procura ao Hospital da Unimed, precisamente em 09 de março de 2021, em virtude de ter contraído covid-19, até falecer em consequência de parada cardiorrespiratória, em 30 de março de 2021, no Hospital São Marcos.

A representante apontou que a cadeia de sucessivos erros médicos foi motivação direta para o falecimento do então paciente.

Relato

Segundo a denunciante, no dia 09, 11 e 13 de março de 2021, o filho contraiu covid-19 e buscou atendimento no Hospital Unimed após apresentar sinais de falta de ar, objetivando internação para tratamento da doença.

No entanto, o policial que possuía o convênio Intermed teve a internação negada, retornando para a casa. A mãe contou que o filho foi novamente ao Hospital Unimed, no dia 15 de março, com tosse persistente, picos febris e evolução de dispneia (dificuldade de respirar), com 50% dos pulmões já comprometidos e com saturação de 93%, conforme Guia de Solicitação de Internação.

Nos dias seguintes de internação, de acordo com a mãe, o policial “a todo momento estava apresentando quadro de melhora ou estabilidade, mas nunca piora. Sem qualquer indício de transferência para UTI ou intubação”.

Transferência para a UTI

Na manhã do dia 24 de março, o médico informou que o filho apresentava melhora clínica com saturação estável comparado ao dia anterior mas que na noite do mesmo dia ele apresentou “piora do padrão respiratório, baixa oximetria de pulso Sat=85”, sendo avaliado nesse momento pelo médico plantonista, onde foi encaminhado para a UTI.

Família contestou UTI

A família do policial contestou a necessidade de UTI afirmando que foi precoce. “O fato de a saturação do paciente ter caído para 85% não é motivo para regulação/encaminhamento para UTI, vez que há muitos motivos que podem levar o paciente a uma piora da saturação, como por exemplo uma nova medicação, uma agitação, preocupação, falta de alimentação/dieta adequada, entre outros”, diz trecho da representação.

A mãe relatou ainda que o filho não queria ir para UTI. “O filho da Requerente, ao ser comunicado da regulação para a UTI, este apresentou nítida negação ao ser comunicado sobre seu encaminhamento ao setor de terapia intensiva, conforme áudio do acompanhante contratado do paciente no momento da comunicação ao paciente”, pontuou a representação.

“Médico mentiu”

Para convencer o paciente e a família a fazer a transferência para a UTI o médico garantiu, segundo a mãe do policial, que o policial não seria intubado, somente seria encaminhado para que ele tivesse um suporte e assistência melhor.

“Dessa forma, o paciente, mesmo contra sua vontade, foi regulado para a UTI, e, inclusive, falou o seguinte para o médico: “o senhor vai me levar para lá só para morrer não é doutor?”, conforme outro áudio do acompanhante”, diz relato da representação.

Melhora na UTI

De acordo com a mãe do policial, o filho sempre evoluía com melhora, tendo apresentado no dia 27 de março, segundo boletim médico, saturação do paciente (SO2: 97%), mesmo utilizando ventilação mecânica por intubação, o que é uma excelente saturação para o quadro clínico do paciente.

Transferência de hospital

Já no dia 29 de março, a médica de plantão, “ao invés de continuar os cuidados com o paciente, resolveu transferir o mesmo para outro hospital, sob a alegação de que outros pacientes estavam precisando de sua vaga na UTI, uma vez que esses pacientes que estão em enfermarias e que estão sofrendo insuficiência respiratória não tem condições para ser transferido para outro hospital, mas o filho da Requerente estava apto para transferência”, diz trecho da representação.

Segundo a mãe do policial, transferir o paciente de UTI, entubado, não reagindo bem ao desmame da ventilação mecânica, com a finalidade de ter vaga para outro paciente de enfermaria é “no mínimo um erro médico gravíssimo”.

Ainda conforme a mãe, em nenhum momento a família autorizou a transferência tendo sido feita por vontade do “próprio hospital para que desocupasse vaga para outro paciente”.

Hospital São Marcos

O paciente foi admitido no Hospital São Marcos no dia 29 de março de 2021, às 10h17, sofrendo uma taquiarritmia súbita. Às 19:10, ele teve a sua primeira parada cardiorrespiratória, perdendo pulsação durante 25 minutos.

“Pois bem, na madrugada do dia 30 de março de 2021, às 01:03, o paciente teve uma segunda e última parada cardiorrespiratória que lhe levou ao óbito. Não há dúvida alguma de que o paciente sofreu por todo o período em que esteve hospitalizado, seja na enfermaria, seja na UTI, pelas inúmeras falhas médicas, finalizando com o falecimento do filho da Requerente, inclusive pelas ausências de informações no prontuário do mesmo, como fora anteriormente detalhado”, afirmou a representação.

Outro lado

As assessorias do Hospital São Marcos e do Hospital Unimed foram procuradas pelo GP1, mas até a publicação desta matéria não haviam enviado posicionamento. Já a assessoria da Unimed Seguros enviou nota, afirmando que Wladimir Fontenele não faz parte do grupo de clientes da empresa.

Leia na íntegra a nota da Unimed Seguros:

A Seguros Unimed esclarece que o senhor Wladimir Fontenele Sá Barreto não faz parte do grupo de clientes da Companhia. Por conta disso, também não foi notificada de qualquer inquérito policial, ação cível ou criminal.

Lamentamos o ocorrido e, como uma empresa do setor da Saúde que cuida de pessoas, permanecemos à disposição para novos esclarecimentos ao veículo.

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