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CNJ determina afastamento de juiz que soltou o próprio filho no Piauí

O juiz Noé Pacheco afirmou ao GP1 que está buscando as medidas legais para reverter o afastamento.

O Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou, por maioria, a abertura de revisão disciplinar e o afastamento cautelar do juiz titular da 1ª Vara de Floriano, Noé Pacheco de Carvalho, por ter beneficiado o próprio filho em uma decisão que o colocou em liberdade. O pedido de providências foi julgado pelos conselheiros na tarde de terça-feira (22), na 360ª Sessão Ordinária.

Em 2021, o filho do magistrado foi preso em flagrante por dirigir embriagado, provocar um acidente de carro e não prestar socorro à vítima. Na ocasião, o juiz concedeu liberdade provisória ao filho, alegando que ele poderia sofrer algum atentado na cadeia. No mês de abril, o Tribunal de Justiça do Piauí (TJPI) aplicou pena de censura ao magistrado.

Foto: Reprodução/FacebookJuiz Noé Pacheco de Carvalho
Juiz Noé Pacheco de Carvalho

O corregedor nacional de Justiça, ministro Luís Felipe Salomão, destacou a extrema gravidade da conduta do juiz piauiense. “Penso que se o magistrado faz isso à luz do dia, imagina o que não faz na calada da noite. Nunca tinha visto alguém que assina uma liberdade provisória para o próprio filho para não receber atentado na cadeia. Que exemplo esse juiz dará na comarca se apenas a censura for aplicada?”, questionou o ministro.

O conselheiro Marcello Terto apresentou voto divergente e foi acompanhado pelo conselheiro Mario Maia. Com a revisão disciplinar, acolhida por maioria pelo Plenário do CNJ, os fatos serão novamente analisados, com possibilidade de modificação da penalidade aplicada, tendo os conselheiros decidido pelo afastamento cautelar do magistrado.

Relembre o caso

Na madrugada do dia 29 de março de 2021, sexta-feira, por volta das 5h, o juiz Noé Pacheco de Carvalho, da 1ª Vara da Comarca de Floriano, mandou soltar o filho Lucas Manoel Soares Pacheco que havia acabado de ser preso em flagrante acusado de dirigir embriagado e provocar um acidente com uma motocicleta deixando uma mulher ferida.

De acordo com a decisão, Lucas Manoel dirigia um Nissan Kics, placa PIW 3208, por volta das 22 horas de domingo (28), quando se envolveu em um acidente com uma motocicleta, nas proximidades da Churrascaria Akapulco, localizada na Avenida Santos Drumond.

A homologação da prisão em flagrante foi feita pelo juiz Noé Pacheco de Carvalho, pai de Lucas, que concedeu a liberdade provisória sem pagamento de fiança. Na decisão, o magistrado reconheceu o parentesco entre os dois e que tecnicamente estaria impedido de se manifestar neste procedimento, no entanto, o juiz elencou os motivos que, segundo ele, permitiam que ele atuasse no caso.

“O autuado é meu filho e nessa condição eu estaria tecnicamente impedido de me manifestar neste procedimento, todavia algumas situações devem ser levadas em consideração: o meu substituto legal encontra-se em gozo de férias, não havendo previsão legal indicando qual o outro juiz teria competência para atuar neste feito; somente o Tribunal de Justiça poderá designar outro juiz para conduzir este procedimento, o que certamente levará tempo, acarretando demora injustificada na defesa do autuado; e o crime imputado ao autuado comporta liberdade provisória, com ou sem fiança”, relatou o magistrado.

Ele decidiu, “considerando a urgência que o caso requer”, pela concessão de liberdade provisória do filho, "independente da prestação de fiança, uma vez que ele não dispõe de renda própria, sujeitando-o ao comparecimento a todos os atos do processo, para os quais for intimado, assim como informar eventual mudança de endereço residencial".

Outro lado

Procurado pelo GP1 nesta terça-feira (23), o juiz Noé Pacheco afirmou que está buscando as medidas legais para reverter a decisão de afastamento. "A decisão do Tribunal de Justiça de censura está sendo reexaminada no CNJ, enquanto o CNJ reexamina, eles acharam por bem eu ficar afastado cautelarmente. Vamos buscar as vias legais para tentar, em primeiro lugar, reverter essa decisão do afastamento, para que eu continue, porque temos muito serviço. Em um segundo momento é tentar manter a decisão que foi dada aqui no tribunal. Nós estamos buscando e trabalhando em uma medida legal para reverter essa decisão de afastamento até que o CNJ aprecie o mérito", disse.

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